quarta-feira, 30 de novembro de 2011

WE FOUND LOVE FOR ALL THOSE PLACES



Hoje eu ouvi uma frase de uma querida colega a qual me disse:  "Nosso corpo deve ser cuidado como um templo divino, nao deveriamos ingerir qualquer merda..." Uma hora depois li algo escrito por Machado: "Eu não sou homem que recuse elogios. Amo-os; eles fazem bem à alma e até ao corpo. As melhores digestões da minha vida são as dos jantares em que sou brindado". 


Paris, Barcelona, Roma e Londres. Restam as fotografias da memória e os calçados desgastados. 

Paris é para quem quer ver e ser visto. É para vestir sua melhor ornamentação, estabelecer-se num café, comer um artístico doce e desfalecer seu tempo em um jardim. 




Barcelona é para estar. Simples assim. Ver, ouvir e sentir. 


Roma é retornar ao passado. Tentei ao andar pelo Forum e Coliseu retornar ao início do infinito. É oscilante a falta de ar ao imaginar que você está a caminhar no mesmo local em que gladiadores, imperadores e tantos outros estiveram. Mas ao mesmo tempo você se depara com o ano de 2011, olha ao redor e percebe que hoje todos aqueles monumentos estão ali para contar uma história. Uma história..... do passado. Afinal, o mais interessante é a nova estória que nós construimos.


Londres é a contemplação da sua personalidade. A estabilização do que você é. É fria. É educada. É charmosa. É o que você quer que seja.






E retornamos a Santos. O que muda é a intenção em dar mais qualidade de vida ao cotidiano. É ai que entra a valorização do corpo como templo divino, como monumento romano. Devemos preservar nosso organismo feito um Pantheon. De vez em quando, devemos experimentar o ócio e deixarmos um pouco de lado o extremismo grego, porém isso seria uma outra viagem. E andar pela orla da praia e substituir o doce parisiense por uma cerveja. E dessa maneira você está a viver pela audição, pelo olfato e pela sua visão. E o dia terminar com um brinde egoista. E se a digestão ocasionar regurgitação e êmese basta suportar a cólica e cumprir com vontade a importância de que o importante é a desimportância, afinal como também disse Assis: lágrimas não são argumentos.



quarta-feira, 2 de novembro de 2011

PARIS




Décimo segundo dia a viajar. Décimo segundo dia a perceber que no final das contas todos buscam pelo o mesmo intuito. Todos buscamos descobrir quem somos. Desnudar a nós mesmos. E lutamos eternamente em nome do conforto, pois despedaçar os medos machuca o ego.

Paris é definitivamente a cidade mais bonita do mundo, nao porque o destino assim quis, mas por que um homem, Napoleao Bonaparte o quis. E conseguiu. Nao discuto aqui por quais vias conseguiu. Mas se todo fim justifica o meio, Bonaparte concedeu este título á Paris. Tudo na cidade é cauteloso, ornamental, artístico e há um viés em cada dobra de distrito. Um viés de mártir. Cheguei á Paris e fui direto ao hotel. Mas ao sair do hotel e virar a esquina. Pimba, lá estava ela. O símbolo maior. O meu primeiro contato de fato com esta cidade. Meu primeiro deslumbre. Dei de cara com a Torre Eiffel. Nesta cidade é assim, a cada piscar de olhos você se depara com algo que te chama atençao. Qualquer construçao é uma paisagem. E subi a Torre Eiffel pelos degraus. Foi um jeito que encontrei para queimar as calorias dos doces da Pierre Hermés. Os famosos macarons. Há de vários sabores. Sao saborosos e visualmente atraentes. Sao coloridos. E caros também. Bom, tudo em Paris é caro. Mas nao seria Paris se nao fosse caro.

E esta cidade definitivamente nao é a Torre Eiffel. Ela é apenas um símbolo. Paris seria Paris mesmo sem a torre.

É verdade que em Paris alguns franceses nao gostam de estrangeiros. Na esquina de meu hotel havia um restaurante, em que eu socorria toda vez que estava faminto, pois lá havia baguetes recheadas e mais saudaveis que custavam 5 euros. Uma vez entrei e o proprietário ao perceber que eu era estrangeiro alterava sua feiçao, me tratava com arrogância e indiferença. A última vez que lá estive resolvi sair mesmo apos já ter feito o pedido. Um absurdo em que nao consigo expressar em palavras.

Uma outra situaçao de descaso foi no café em que foi filmado Amelie Poulain chamado Les Deux Moulin próximo ao Moulin Rouge no bairro Montmartre. Entrei, sentei e fiquei 20 minutos a esperar o garçom que já havia me visto. Tudo bem, pensei que eu era quem devesse chamá-lo ou sei lá, afinal estou num outro país em que as coisas se desenrolam de modo distinto. No entanto, ele veio até mim e ao perceber que eu nao era francês e nem falava francês, mudou completamente de abordagem. Eu pedi apenas um café. Eu queria apenas tomar um café no local em que se fez parte o tal filme. Mas estou a esperar o café até agora. Sai de lá muito mas muito irritado, foi a maior irritaçao que tive em Paris. Foi a primeira vez que entendi de fato o conceito da palavra xenofobia.

Por um outro lado, como podem ser tao educados. A maioria, conhecidos ou nao conhecidos, se cumprimentam. É bom dia para cá, boa noite para lá, senhor, senhora, madame. E quantos "pardon" eu ouvi nesta cidade?? Educaçao nunca é demais.

Paris é para quem quer ser visto e ver. E os cafés estao por toda parte para comprovar isso. É uma passarela de moda ao ar livre. Estava frio, porém nao tanto, nao tanto que justificasse tantos casacos, sobretudos em cortes impecáveis, sapatos, maquiagem e isso e aquilo. Ostentaçao é a ordem. Porém quem faz Paris sao os turistas. Estao por toda parte. Sabe aquela ruela daquele bairro nao tao conhecido. Pois bem, há turistas lá também. Sao os turistas que mantém aquilo tudo vivo. Sao os turistas que injetam milhoes de dinheiro para se manter Paris a funcionar. Para manter o Louvre o maior museu do planeta. Sem turistas Paris nao existiria? Claro que existiria, mas seria uma outra cidade. Para se manter tudo aquilo lá, necessita colocar carvao para manter o trem nos trilhos em alta velocidade.

Eu entrei duas vezes numa loja de roupas e pensei: compro ou nao este casaco, pois em certo momento Paris faz você se questionar: "ou você se encaixa á Paris ou você está fora". E nao é apenas pelo tecido. Paris se constroe pela imagem. A maioria é bela. A maioria é magra. Isso seria o suficiente para ver Paris como um monstro superficial e gélido. Mas o sabor de outono da cidade se faz pois houve há muito tempo homens como Voltaire, Victor Hugo, Proust, anônimos e tantos outros que deram o charme que borrifa em suas ruas estreitas.

Há pobreza nesta cidade? Sim, basta pegar um trem e sair da zona 1 e 2 e você verá muita pobreza, pessoas comuns, com vestimentas básicas e as necessárias.

O metro em Paris é algo memorável. Há artistas do mundo todo em suas passarelas e baldiaçoes a fazer sua arte: a cantar, dançar, até teatro dentro do vagao do metro eu presenciei. E sao de todas as partes do mundo. Todos em Paris andam de metro, da loira nórdica belissima ao árabe acompanhado de suas mulheres vestidas com burca. Todas as culturas se entrelaçam. Por que? Porque Paris é para turistas.

As comidas em Paris é uma forma de se expressar arte. Todos os pedidos vem com uma entrada, com o prato principal e depois a sobremesa. O único local em que vi self-service foi numa enorme loja de departamentos chamada Galeria Lafayette. Eles veem self-service com um olhar de esguelha, algo sujo e inapropriado. Como faremos no Brasil durante a copa do mundo e as olimpíadas em que há self-service por todos os lugares??? Eis o grande pecado de se estar nesta cidade. Você tende a negar sua origem. Em nenhum outro lugar eu me lembrei tanto de Machado de Assis, Mário de Andrade, Manuel Bandeira e tantos outros escritores brasileiros. Claro que essa idéia daria um outro post de tao longa que seria. Mas somos culturas distintas. E o clima é claro que contribui e muito para a construcao de um povo, sem falar na tal batida idéia do colonizador-colonizado. Báaaa, que chato isso. Paris é para se sentar numa cadeirinha verde ao lado de uma escultura exuberante e ver a vida envelhecer. Paris é para se deslumbrar com a arquitetura dos prédios e avenidas e cafés. É muito fácil ver beleza em frente ao Louvre ao lado de uma multidao bela e bem vestida. Mas você consegue ver a beleza que a favela da Rocinha tem?

Museus há em toda parte. Museu disso, museu daquilo. Arco do triunfo. Este aliás eu subi até o topo e vi a famosa avenida Champs Elysées. Sem devaneios, mas a imagem que mais me chamou a atençao foi uma mendiga ajoelhada sobre o chao da avenida com a cabeça mergulhada sobre a calçada a segurar uma latinha vazia a espera de moedas, enquanto o mundo passava por ela e nem a notava. Eu tirei uma foto dessa cena e assim que conseguir postá-la , alguém.... se é que há alguem que leia tudo isso... verá a tal cena.

E as pessoas consomem, como consomem.....filas e filas homéricas em frente a Louis Vuitton e tantas outras marcas que nem sei escrever muito menos pronunciar o nome. 

Saboriei muito as livrarias. As gigantes Virgin e Fenac e as deliciosas Gilbert Joseph próximas á Sorbonne. Aliás, Sorbonne foi o meu maior desejo, nao há faculdade em si. Evidente que seria extraordinário fazer parte daquele universo, mas o bairro (quartier latin) que se desenvolveu ao redor me ascendeu em nostalgia. Era meu lugar favorito. E é próximo do Jardim de Luxembourg, em que há a Fontaine Médicis, um local para sentar e desfalecer. Aliás quem for á Paris nao deixe de ir ao Museu de Luxembourg que está com uma exposiçao sobre Cézanne.

Bom, é muito porém foi pouco. Paris é isso. Ir, deslumbrar-se e visto de Barcelona, é apenas Paris. Nao é o local em que escolheria para viver para sempre. Mesmo por que temos um pouco de cada lugar. Somos tao parisienses quantos os próprios parisienses, pois o mundo se faz em um só há muito tempo.

Visto de Barcelona, o Brasil seria tao Paris se se roubassem menos, se houvesse menos corrupçao. E para finalizar esse post finalmente:  Consegui desnudar a mim mesmo? Bom depois de tanto caminhar, depois de tanto fugir só posso dizer que há tanto ainda que caminhar. Os pés estao cansados, e eis aqui o maior dos maiores cliches, mas que cabe perfeitamente neste contexto: sou brasileiro e eu nunca desisto.