domingo, 18 de dezembro de 2011

OLHAR ESCONDIDO

Duas coisas: duas pessoas. 




Uma delas é a Dona Maria, 83 anos, idosa, rugas nordestinas por toda a pele. Cabelos brancos comprimidos na altura dos ombros. Reside sozinha num casarão antigo em uma das avenidas mais movimentadas da cidade. Maria é sozinha e solitária. Está sempre com sua cadeirinha amarela sentada em frente sua casa a ver as pessoas passarem. Está sempre a conversar com os transeuntes que param para conversar com a velha senhora. Sou um destes. Passo em frente a casa da dona Maria pelo menos cinco vezes por semana e sempre a vejo ou sentada em frente sua casa ou a praticar jardinagem. Dona Maria é lúcida embora já vi indícios de demência senil. Observo Maria toda vez que a vejo. E quando não a vejo me lembro dela. 






A outra pessoa é um senhor do qual não sei o nome. Pelo menos cinco vezes na semana vou ao Parque Balneário tomar café e o vejo sentado sempre sozinho nas mesinhas próximo ao café. Aparenta ter mais de 70 anos e sempre está de terno e gravata. Fica solitário na mesa e a maioria da vezes está a cochilar com a cabeça quase a despencar para trás. Há dois dias tive a informação de que ele mora sozinho e nunca se casou. E toda vez que vou ao café procuro por ele. E sempre o vejo. Ele não me vê.




Pergunto-me: Oque essas duas pessoas estão a me ensinar?????


Resposta: Bom, não tenho certeza, mas talvez exista alguém que também nos observa com olhos cegos.

domingo, 11 de dezembro de 2011

METAMORFOSE



Diálogo de dois desconhecidos:


- O que você gostaria de falar comigo?
- Escuta, eu não quero falar do meu desejo a você...
- Por que não?
- Ah, quero apenas contar a minha ternura (pausadamente)...
- Que ternura?
Eles se abraçam...um longo abraço.
- Quer tomar um café?
- Sim
- E depois faremos o que??
Outro abraço...

- Oi, por favor, dois cafés. Um puro para mim e outro com pouquinho de leite e espuma para ela...
- Eu acho que eu entendi a sua ternura... E sorri para ele.






...




EU era o próximo da fila.


- Oi, um café puro para mim. Cinco minutos após saio da cafeteria. Olho para trás e vejo um terceiro abraço...