domingo, 18 de dezembro de 2011

OLHAR ESCONDIDO

Duas coisas: duas pessoas. 




Uma delas é a Dona Maria, 83 anos, idosa, rugas nordestinas por toda a pele. Cabelos brancos comprimidos na altura dos ombros. Reside sozinha num casarão antigo em uma das avenidas mais movimentadas da cidade. Maria é sozinha e solitária. Está sempre com sua cadeirinha amarela sentada em frente sua casa a ver as pessoas passarem. Está sempre a conversar com os transeuntes que param para conversar com a velha senhora. Sou um destes. Passo em frente a casa da dona Maria pelo menos cinco vezes por semana e sempre a vejo ou sentada em frente sua casa ou a praticar jardinagem. Dona Maria é lúcida embora já vi indícios de demência senil. Observo Maria toda vez que a vejo. E quando não a vejo me lembro dela. 






A outra pessoa é um senhor do qual não sei o nome. Pelo menos cinco vezes na semana vou ao Parque Balneário tomar café e o vejo sentado sempre sozinho nas mesinhas próximo ao café. Aparenta ter mais de 70 anos e sempre está de terno e gravata. Fica solitário na mesa e a maioria da vezes está a cochilar com a cabeça quase a despencar para trás. Há dois dias tive a informação de que ele mora sozinho e nunca se casou. E toda vez que vou ao café procuro por ele. E sempre o vejo. Ele não me vê.




Pergunto-me: Oque essas duas pessoas estão a me ensinar?????


Resposta: Bom, não tenho certeza, mas talvez exista alguém que também nos observa com olhos cegos.

domingo, 11 de dezembro de 2011

METAMORFOSE



Diálogo de dois desconhecidos:


- O que você gostaria de falar comigo?
- Escuta, eu não quero falar do meu desejo a você...
- Por que não?
- Ah, quero apenas contar a minha ternura (pausadamente)...
- Que ternura?
Eles se abraçam...um longo abraço.
- Quer tomar um café?
- Sim
- E depois faremos o que??
Outro abraço...

- Oi, por favor, dois cafés. Um puro para mim e outro com pouquinho de leite e espuma para ela...
- Eu acho que eu entendi a sua ternura... E sorri para ele.






...




EU era o próximo da fila.


- Oi, um café puro para mim. Cinco minutos após saio da cafeteria. Olho para trás e vejo um terceiro abraço...

quarta-feira, 30 de novembro de 2011

WE FOUND LOVE FOR ALL THOSE PLACES



Hoje eu ouvi uma frase de uma querida colega a qual me disse:  "Nosso corpo deve ser cuidado como um templo divino, nao deveriamos ingerir qualquer merda..." Uma hora depois li algo escrito por Machado: "Eu não sou homem que recuse elogios. Amo-os; eles fazem bem à alma e até ao corpo. As melhores digestões da minha vida são as dos jantares em que sou brindado". 


Paris, Barcelona, Roma e Londres. Restam as fotografias da memória e os calçados desgastados. 

Paris é para quem quer ver e ser visto. É para vestir sua melhor ornamentação, estabelecer-se num café, comer um artístico doce e desfalecer seu tempo em um jardim. 




Barcelona é para estar. Simples assim. Ver, ouvir e sentir. 


Roma é retornar ao passado. Tentei ao andar pelo Forum e Coliseu retornar ao início do infinito. É oscilante a falta de ar ao imaginar que você está a caminhar no mesmo local em que gladiadores, imperadores e tantos outros estiveram. Mas ao mesmo tempo você se depara com o ano de 2011, olha ao redor e percebe que hoje todos aqueles monumentos estão ali para contar uma história. Uma história..... do passado. Afinal, o mais interessante é a nova estória que nós construimos.


Londres é a contemplação da sua personalidade. A estabilização do que você é. É fria. É educada. É charmosa. É o que você quer que seja.






E retornamos a Santos. O que muda é a intenção em dar mais qualidade de vida ao cotidiano. É ai que entra a valorização do corpo como templo divino, como monumento romano. Devemos preservar nosso organismo feito um Pantheon. De vez em quando, devemos experimentar o ócio e deixarmos um pouco de lado o extremismo grego, porém isso seria uma outra viagem. E andar pela orla da praia e substituir o doce parisiense por uma cerveja. E dessa maneira você está a viver pela audição, pelo olfato e pela sua visão. E o dia terminar com um brinde egoista. E se a digestão ocasionar regurgitação e êmese basta suportar a cólica e cumprir com vontade a importância de que o importante é a desimportância, afinal como também disse Assis: lágrimas não são argumentos.



quarta-feira, 2 de novembro de 2011

PARIS




Décimo segundo dia a viajar. Décimo segundo dia a perceber que no final das contas todos buscam pelo o mesmo intuito. Todos buscamos descobrir quem somos. Desnudar a nós mesmos. E lutamos eternamente em nome do conforto, pois despedaçar os medos machuca o ego.

Paris é definitivamente a cidade mais bonita do mundo, nao porque o destino assim quis, mas por que um homem, Napoleao Bonaparte o quis. E conseguiu. Nao discuto aqui por quais vias conseguiu. Mas se todo fim justifica o meio, Bonaparte concedeu este título á Paris. Tudo na cidade é cauteloso, ornamental, artístico e há um viés em cada dobra de distrito. Um viés de mártir. Cheguei á Paris e fui direto ao hotel. Mas ao sair do hotel e virar a esquina. Pimba, lá estava ela. O símbolo maior. O meu primeiro contato de fato com esta cidade. Meu primeiro deslumbre. Dei de cara com a Torre Eiffel. Nesta cidade é assim, a cada piscar de olhos você se depara com algo que te chama atençao. Qualquer construçao é uma paisagem. E subi a Torre Eiffel pelos degraus. Foi um jeito que encontrei para queimar as calorias dos doces da Pierre Hermés. Os famosos macarons. Há de vários sabores. Sao saborosos e visualmente atraentes. Sao coloridos. E caros também. Bom, tudo em Paris é caro. Mas nao seria Paris se nao fosse caro.

E esta cidade definitivamente nao é a Torre Eiffel. Ela é apenas um símbolo. Paris seria Paris mesmo sem a torre.

É verdade que em Paris alguns franceses nao gostam de estrangeiros. Na esquina de meu hotel havia um restaurante, em que eu socorria toda vez que estava faminto, pois lá havia baguetes recheadas e mais saudaveis que custavam 5 euros. Uma vez entrei e o proprietário ao perceber que eu era estrangeiro alterava sua feiçao, me tratava com arrogância e indiferença. A última vez que lá estive resolvi sair mesmo apos já ter feito o pedido. Um absurdo em que nao consigo expressar em palavras.

Uma outra situaçao de descaso foi no café em que foi filmado Amelie Poulain chamado Les Deux Moulin próximo ao Moulin Rouge no bairro Montmartre. Entrei, sentei e fiquei 20 minutos a esperar o garçom que já havia me visto. Tudo bem, pensei que eu era quem devesse chamá-lo ou sei lá, afinal estou num outro país em que as coisas se desenrolam de modo distinto. No entanto, ele veio até mim e ao perceber que eu nao era francês e nem falava francês, mudou completamente de abordagem. Eu pedi apenas um café. Eu queria apenas tomar um café no local em que se fez parte o tal filme. Mas estou a esperar o café até agora. Sai de lá muito mas muito irritado, foi a maior irritaçao que tive em Paris. Foi a primeira vez que entendi de fato o conceito da palavra xenofobia.

Por um outro lado, como podem ser tao educados. A maioria, conhecidos ou nao conhecidos, se cumprimentam. É bom dia para cá, boa noite para lá, senhor, senhora, madame. E quantos "pardon" eu ouvi nesta cidade?? Educaçao nunca é demais.

Paris é para quem quer ser visto e ver. E os cafés estao por toda parte para comprovar isso. É uma passarela de moda ao ar livre. Estava frio, porém nao tanto, nao tanto que justificasse tantos casacos, sobretudos em cortes impecáveis, sapatos, maquiagem e isso e aquilo. Ostentaçao é a ordem. Porém quem faz Paris sao os turistas. Estao por toda parte. Sabe aquela ruela daquele bairro nao tao conhecido. Pois bem, há turistas lá também. Sao os turistas que mantém aquilo tudo vivo. Sao os turistas que injetam milhoes de dinheiro para se manter Paris a funcionar. Para manter o Louvre o maior museu do planeta. Sem turistas Paris nao existiria? Claro que existiria, mas seria uma outra cidade. Para se manter tudo aquilo lá, necessita colocar carvao para manter o trem nos trilhos em alta velocidade.

Eu entrei duas vezes numa loja de roupas e pensei: compro ou nao este casaco, pois em certo momento Paris faz você se questionar: "ou você se encaixa á Paris ou você está fora". E nao é apenas pelo tecido. Paris se constroe pela imagem. A maioria é bela. A maioria é magra. Isso seria o suficiente para ver Paris como um monstro superficial e gélido. Mas o sabor de outono da cidade se faz pois houve há muito tempo homens como Voltaire, Victor Hugo, Proust, anônimos e tantos outros que deram o charme que borrifa em suas ruas estreitas.

Há pobreza nesta cidade? Sim, basta pegar um trem e sair da zona 1 e 2 e você verá muita pobreza, pessoas comuns, com vestimentas básicas e as necessárias.

O metro em Paris é algo memorável. Há artistas do mundo todo em suas passarelas e baldiaçoes a fazer sua arte: a cantar, dançar, até teatro dentro do vagao do metro eu presenciei. E sao de todas as partes do mundo. Todos em Paris andam de metro, da loira nórdica belissima ao árabe acompanhado de suas mulheres vestidas com burca. Todas as culturas se entrelaçam. Por que? Porque Paris é para turistas.

As comidas em Paris é uma forma de se expressar arte. Todos os pedidos vem com uma entrada, com o prato principal e depois a sobremesa. O único local em que vi self-service foi numa enorme loja de departamentos chamada Galeria Lafayette. Eles veem self-service com um olhar de esguelha, algo sujo e inapropriado. Como faremos no Brasil durante a copa do mundo e as olimpíadas em que há self-service por todos os lugares??? Eis o grande pecado de se estar nesta cidade. Você tende a negar sua origem. Em nenhum outro lugar eu me lembrei tanto de Machado de Assis, Mário de Andrade, Manuel Bandeira e tantos outros escritores brasileiros. Claro que essa idéia daria um outro post de tao longa que seria. Mas somos culturas distintas. E o clima é claro que contribui e muito para a construcao de um povo, sem falar na tal batida idéia do colonizador-colonizado. Báaaa, que chato isso. Paris é para se sentar numa cadeirinha verde ao lado de uma escultura exuberante e ver a vida envelhecer. Paris é para se deslumbrar com a arquitetura dos prédios e avenidas e cafés. É muito fácil ver beleza em frente ao Louvre ao lado de uma multidao bela e bem vestida. Mas você consegue ver a beleza que a favela da Rocinha tem?

Museus há em toda parte. Museu disso, museu daquilo. Arco do triunfo. Este aliás eu subi até o topo e vi a famosa avenida Champs Elysées. Sem devaneios, mas a imagem que mais me chamou a atençao foi uma mendiga ajoelhada sobre o chao da avenida com a cabeça mergulhada sobre a calçada a segurar uma latinha vazia a espera de moedas, enquanto o mundo passava por ela e nem a notava. Eu tirei uma foto dessa cena e assim que conseguir postá-la , alguém.... se é que há alguem que leia tudo isso... verá a tal cena.

E as pessoas consomem, como consomem.....filas e filas homéricas em frente a Louis Vuitton e tantas outras marcas que nem sei escrever muito menos pronunciar o nome. 

Saboriei muito as livrarias. As gigantes Virgin e Fenac e as deliciosas Gilbert Joseph próximas á Sorbonne. Aliás, Sorbonne foi o meu maior desejo, nao há faculdade em si. Evidente que seria extraordinário fazer parte daquele universo, mas o bairro (quartier latin) que se desenvolveu ao redor me ascendeu em nostalgia. Era meu lugar favorito. E é próximo do Jardim de Luxembourg, em que há a Fontaine Médicis, um local para sentar e desfalecer. Aliás quem for á Paris nao deixe de ir ao Museu de Luxembourg que está com uma exposiçao sobre Cézanne.

Bom, é muito porém foi pouco. Paris é isso. Ir, deslumbrar-se e visto de Barcelona, é apenas Paris. Nao é o local em que escolheria para viver para sempre. Mesmo por que temos um pouco de cada lugar. Somos tao parisienses quantos os próprios parisienses, pois o mundo se faz em um só há muito tempo.

Visto de Barcelona, o Brasil seria tao Paris se se roubassem menos, se houvesse menos corrupçao. E para finalizar esse post finalmente:  Consegui desnudar a mim mesmo? Bom depois de tanto caminhar, depois de tanto fugir só posso dizer que há tanto ainda que caminhar. Os pés estao cansados, e eis aqui o maior dos maiores cliches, mas que cabe perfeitamente neste contexto: sou brasileiro e eu nunca desisto.

sábado, 22 de outubro de 2011

MERCI



Estou no aeroporto prestes a embarcar por um longo período. Desembarcar sozinho ao desconhecido, ao 100 % diferente. Esta viagem tem vários intuitos e o descanso, com certeza, é apenas o décimo, o décimo primeiro motivo de minha lista. Estou ansioso, estou abundantemente ansioso. Esta viagem tem algo muito intrínseco. Tentar resgatar coisas que se perdem ao longo da rotina diária. Começo esta viagem entristecido, mas pretendo reconquistar o belo da doce vida quando retornar. Saber que na volta terei á espera várias pessoas queridas é reconfortante e silenciosamente ensurdecedor. Au revoir...

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Hallelujah





Hoje eu ganhei duas coisas inesperadas de duas pessoas muito queridas por mim: um bife à parmegiana e uma torta integral de banana. A carne eu devorei em poucos minutos ao levá-la para o meu almoço. A primeira fatia da torta será aniquilada em breve. 


A carne é vermelha e com uma fatia de mussarela em cima, além de ser frita no óleo com farinha branca misturada com gema de ovo. A torta é composta de 80% de fruta banana natural e a farinha é integral.






Não saudável & saudável; carnívoro & herbívoro; errado & certo; LDL & HDL; proteína & potássio...


Qual o equílibrio que devemos ter? Seria a resposta de se ter equilíbrio, às vezes, cometer desequilíbrios?? Há resposta para isso? Ridículo...


Hoje tive uma conversa de uns 5 minutos com duas colegas e indagamos como o modo de almejarmos coisas muda com os anos. Sim, é um clichê isso. Todos em algum momento dizem que em seus dias atuais pensam diferentes do que pensavam tempos atrás. Mas é preciso oxidar a vida para se aproximar ao que os mais velhos chamam de maturidade. Tente definir maturidade!






Independente de você ser mais carne vermelha do que torta de banana ou vice versa é o valor que você confere em uma ou na outra. Não convém estar preso em uma ou em outra. Mas se fosse tão fácil assim ter o equilíbrio da segurança não pecaríamos tanto em altivez. 


Bom, a carne estava uma delícia. A torta está uma delícia. E deste singelo agradecimento e reflexão sobre relíquias e clichês o aprendizado é simples: seja conveniente consigo mesmo, jamais conivente. 

quarta-feira, 31 de agosto de 2011

MONTANHA RUSSA





Quando a invenção social passa a ser exclusivamente deletéria? 

Estava eu a retornar para casa após uma corrida e observei duas garotas a sair de um carro em frente um restaurante japonês. E o assunto entre elas era sobre uma terceira menina. E criticavam esta pessoa. Destoavam sobre ela com muita hostilidade. Evidente que não sei qual a origem de tantas críticas em tão pouco tempo. Mas isso não importa. Não discuto isso. Não discuto a expressão. Apoio o livre arbítrio. Mas levanto bandeira também para a justiça, afinal não há como controlar as maledicências.


Quando intervir após um mau agouro social?


Muitas vezes a crítica falada é moldada com fantasia, ou seja, criam-se fatos que não houveram; propagam-se frases que não foram proferidas e, no entanto, geram-se consequências desastrosas. É um autoaprisionamento imbutido por outrem.


Quando intervir? Por que desfazer um nó sustentado pela reflexão de alguém? Por que tanta precariedade?


Acredito que a melhor forma de agir é pensar que todos nós vivemos num parque de diversões. Uma postura infantilizada é concisa e coerente com este parque social. Porém a conduta transgressora e indefectível é ver, ouvir e guardar para dentro de si algo que ninguém pode arrombar: "Eu sei que você mente. Eu sei que isso não condiz".


E deste modo enfeitamos este espetáculo com uma luta sem luta.





quarta-feira, 24 de agosto de 2011

BOTH SIDES NOW




Já disse que gosto da Quarta-feira??? Talvez por que é o dia em que tenho tempo para ver alguns vídeos no youtube, algum programa na televisão e tentar colocar em ordem o apartamento. 


O vídeo em questão é sobre Joni Mitchell, a qual ouvi pela primeira vez em 2000.


...




Há um tempo atrás eu atendi uma senhora por volta dos seus 80 anos, a qual estava a acompanhar a filha (uns 40 anos de idade). A filha estava com um quadro gripal. Já havia ido ao médico e retornava naquele dia. Pelo motivo da prostração não estava disposta a trabalhar e não foi. Disse que em anos de profissão nunca precisou faltar, no entanto, atualmente pela situação relatou que houve da chefia resistência e desconfiança. Ela realmente estava debilitada, não obstante estar medicada retornou pois, talvez, faltaram orientações sobre infecções virais. A mãe estava elegantemente em zelo. Restava-se a filha o repouso e o alívio dos sintomas com algumas medicações. Mediquei-a. E ambas sairam. A filha e a mãe.




Dois minutos depois a mãe retorna. Perguntou-me se eu poderia dar um atestado a filha. Eu respondi: Por quê? (em tom irônico). Ela respondeu em tom doce, voz trêmula e devagar: "Ai doutor, a gente precisa tanto de vocês. Minha filha não está bem...Eles (no trabalho) foram muito duros com ela. Ai doutor..."


Eu fiz o atestado, entreguei-o e disse: "Aqui senhora". Ela: "Ahh doutor, muito obrigada, continue assim a gente precisa muito de vocês. A vida é muito difícil".


E a senhorinha vira e no seu ritmo de passos bem lentos e mancando de uma perna deixa o consultório, olha em direção a filha e eu permaneci a olhar até ela desaparecer de meu campo visual.


Preciso dizer mais???















quarta-feira, 3 de agosto de 2011

O FIM É APENAS O COMEÇO ?


Hoje soube do falecimento de um conhecido. Não éramos amigos, apenas conhecidos. Tínhamos amigos em comum. Chegamos até, uma vez, estar na mesma turma de amigos em uma festa. No mais, nos encontrávamos na academia esporadicamente.


Pelo que soube a morte se deu por um choque anafilático após a administração de um medicamento. Não sei se preciso conhecer os detalhes dessa história. Isto pouco importa.


Ao longo dos segundos estou a pensar sobre a morte. É MUITO clichê, mas é inevitável. Deveríamos aproveitar mais a vida? Deveríamos entrar em contato com amigos distantes? Deveríamos reencontrar mais as pessoas? Deveríamos comer mais chocolate? Deveríamos lamentar menos sobre as cousas? Deveríamos sorrir mais? Deveríamos nos irritar menos?


Ao mesmo tempo ouço a palavra OTIMISMO. Por que não comer chocolate pois não queremos engordar? Por que não aceitar que amigos partem e outros chegam? Por que não aceitar que amizades podem ter um fim? Por que não criticar a vida? Por que não expressar irritabilidade? 

Talvez o pseudo sábio diria: "Pode-se tudo com comedimento"



Mas essa afirmação me incomoda. 




O fato é que poucos aceitam a morte. Quanto mais próximos melhor a aceitamos? Enquanto mais jovens não nos importamos com ela? Por que pensar na morte se estamos vivos? Pensamos no almoço de amanhã, na viagem do fim de semana mas por que não pensar na morte?


Penso eu que deveríamos refletir sobre a morte desde que o pensamento se converta em mais vida, no sentido de sentir-se mais vivo.


Estou um tanto abalado ainda com a tal notícia. MAS já é uma largada pensar sobre a morte. Nada concluí.


Lembra da estante imaginária com pessoas em miniatura? Hoje metade da minha estante está em luto. 

A outra metade luta.









quinta-feira, 28 de julho de 2011

MIMOSA PUDICA



Hoje falarei de Paulo Eduardo. Ele é um jovem funcionário do setor de limpezas do hospital. Serviço este que é terceirizado, logo não dá direito a cesta básica, nem a refeições no hospital. Paulo é o tipo de pessoa que passa despercebida por nós. São seres invisíveis. Eles estão ali, mas nós custamos visualizá-los. Eles limpam nossa sujeira, tiram o lixo que acumulamos e andam a maioria do tempo cabisbaixos. E se olhamos para eles e notamos sua presença, eles se fecham cada vez mais. Feito um nastismo humano. 


Hoje ele entrou no consultório trazido por uma colega (também faxineira) com queixa de formigamentos pelo corpo, náuseas e vômitos. Durante a consulta ele disse que não se alimentava há 3 dias. Mas eu perguntei: Mas nada? Nada, nada mesmo? Ele disse que, ás vezes, beliscava um pedaço de pão. "Mas arroz e feijão mesmo doutor, isso não!!!". Pronto, foi o suficiente para eu me calar.


Continuei.




Mas você mora com quem?? Ele disse que morava sozinho. Neste momento a colega de trabalho se manisfesta: "Ele ganha um salário mínimo doutor e duzentos reais ele dá para a filha pequena, pois é separado". Paulo permaneceu a maior parte da consulta de cabeça baixa, pois estava debilitado, pois estava envergonhado, porque se sente menos, porque nós fazemos ele se sentir menos.


Perguntei se ele usava entorpecentes. Ele não entendeu. "Você usa algum tipo de droga?" Ele disse que não e interrompeu. "Quer dizer, eu fumo né, cigarro é entorpecente doutor??". Eu disse que sim, que era entorpecente.  O por quê da pergunta? Pode ser, talvez, a manifestação do meu diabo interno. Pensei por um momento "Mas o que você faz com o seu salário?". "Será que ele gasta em coisas que não deveria?" "Será que usa drogas?"


Mais isso e aquilo e conduta feita. E Paulo deixa o consultório.


...


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"Alô, Renata, tudo bem, aqui é o Vinícius"


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Em menos de uma hora, Renata (a dona da lanchonete Ozzie da academia da qual frequento) estava na porta do meu consultório junto com seu marido com uma cesta básica. E ainda se ofereceu a pagar metade.




Peço para chamar Paulo e entrego sua cesta básica.




...


...


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Não sou e não tenho vocação para ser Madre Teresa de Calcutá. Mas fiz o que achei que deveria fazer. Ou melhor, fizemos. Renata, seu marido e eu.


O problema dele não irá se resolver com uma cesta básica, eu sei disso. Mas é assim. Deve ser assim. Algum motivo deve ter. Não sei o que é ter fome. Não sei o que é não ter o que comer. Mas sei que posso ajudar. E hoje foi um dia em que o anjo venceu o diabo que habita em nós. Hoje pelo menos...




Ps: Um forte abraço ao Dr Valter. Prezo muito pelas palavras do senhor.

quinta-feira, 14 de julho de 2011

SENTIDOS


Hoje eu vou falar um pouquinho de pessoas.


Márcia... ela deve ter trinta e poucos anos. Tem a pele morena, aparentemente macia, cabelos pretos e ondulados. É alta e magra e com os músculos definidos. Márcia foi uma assídua frequentadora da academia. Ia de manhã e retornava às tardes. E de vez em quando a encontrava a andar de bicicleta pela orla ou a passear com o cachorrinho pelas ruas do bairro. Sempre de roupa preta e sorrisos brancos. Márcia tem uma tom de voz que mescla o suave e obtuso. Ela permaneceu, segundo a mesma, três meses sem ir a academia. Mas retorna agora. O que me chama atenção nela: A espantosa realidade das cousas. É a minha descoberta de todos os dias. Cada cousa é o que é  e é difícil explicar a alguém quanto isso me alegra e quanto isso me basta (Caeiro). 




Hoje a caminho de casa pensei na família Simpsons. Pensei e relembrei alguns personagens que frequentam a cidade Springfield. Há 10 meses eu coleciono miniaturas dos personagens do desenho animado. Tenho vários já. Todos em minha estante na sala de televisão. Hoje eu reparei neles ao entrar no apartamento. Neste momento vem-me uma vaga saudade e um desejo infantil de retornar a infância. Porém, mais íntegro seria se pudesse retornar a infância como adulto. Mas isto destoaria da realidade. Não que retornar a infância fosse algo real, mas se pudesse...No entanto, mais íntegro seria se pudesse reunir todas as pessoas que descubro todos os dias por algum motivo em particular. Pessoas que conheço e as que não conheço mas reencontro na academia, no trabalho, no cinema, no café...


Na felicidade ou infelicidade, sentir é o que basta. E neste momento ou nas memórias a seguir eu materializo todas as pessoas que conheço e as que eu não conheço. Minimizo estas pessoas, como Márcia, e as coloco todas em minha estante. Neste instante, me sinto menos só...


Quem me dera que eu pudesse fazer isso. Quem me dera...Mas eu posso, não é? Posso?

segunda-feira, 11 de julho de 2011

O BEIJO DO VAMPIRO



Por que algumas pessoas que nem sabemos o nome nos irritam?  Pior ainda quando conseguem atiçar nosso instinto animal num ambiente em que, teoricamente, ninguém deveria estar estressado. E este lugar seria a academia.


Há uma pessoa que me destoa do bom senso a algum tempo. Esta pessoa é uma mulher, tem uns 57 anos e frequenta a academia todos os dias. Ela é loira, cabelos compridos e lisos. Dá para perceber que cuida da saúde, embora tenha sinais visíveis do envelhecimento. 


Até aqui ok, certo? Sim. Acontece que ela se acha a dona do ambiente. Por exemplo: você está a exercitar-se num aparelho e, de repente, uma pessoa chega e ocupa o seu lugar, sem ao menos perguntar se você estava a usar e ainda faz cara de deboche. Mas hoje ela foi além, eu estava a me exercitar, com fone de música nos ouvidos e percebi ela se aproximar. Eu estava de cabeça baixa, a realizar o movimento do exercício e percebi através do campo visual que ela perguntara algo. Eu terminei o movimento, apertei o pause do aparelho de música e olhei em direção ao seu rosto. Ela perguntou quantas séries faltavam para eu terminar o exercício. Faltava uma, mas eu disse que faltavam três. Em seguida ela comentou algo com um personal que estava ao seu lado, resmungou e saiu. 


Eu sai correndo atrás dela, puxei o cabelo loiro, derrubei-a no chão e pisotiei a cara dela. 


Mentira. Mas deu vontade.



Realmente, envelhecer pode não nos tornar mais inteligentes. O que vai contra a pesquisa que saiu semana passada, a qual afirma que os idosos são mais inteligentes que os jovens, pois o cérebro evolui no aspecto sabedoria conforme os anos passam. Bom, para a maioria pelo menos.


Esta mulher é uma pessoa difícil. Do tipo que nunca sorri. Inconveniente. E que chega nos locais a mastigar um chiclete e balançando os cabelos. Mas eu só lamento.


É impressionante como algumas pessoas se tornam atraentes a partir do momento que proferem idéias. No entanto, algumas são atraentes porque são mudas. Tornam-se enigmáticas, interessantes. Porém ao dizerem algo deixam de ser interessantes e a magia se quebra.


Mas isto é uma outra idéia de um outro post. 



Olho para a janela da sala de minha casa a qual dá para a rua. Esta época do ano as árvores recebem a visita de um animalzinho atípico. Morcegos. Isso mesmo. Um bando de morcegos. E eles não param quietos nas árvores. Voam o tempo todo entre uma árvore e outra.


Bom... entre morcegos, vampiros e loiras sanguessugas eu fico hoje com as anemias.

domingo, 26 de junho de 2011

HAIR

Este post é sobre cabelos...Sim, sobre cabelos. Uma (in)utilidade pública. "Você gosta do seu cabelo??" Foi esta a pergunta que uma amiga fez a outra enquanto caminhavam pelo Shopping Center. A outra respondeu: NÃO!!!!, assim mesmo, bem categórica.


Estive a pensar em algo que nunca parei tanto tempo. Pensar sobre o meu cabelo. 


Quando pequeno meu cabelo era do tipo indígena. Liso, liso e liso e com franjinha. Era como se tivessem colocado uma cuica sob minha cabeça e cortado o meu cabelo. 




Entrei na adolescência e passei grande parte dela de boné. Era um festival de bonés. E por quê? Oras, para esconder aquilo que me incomodava. E o meu cabelo me incomodava. E os bonés chegavam até a desbotar pelo uso em excesso. Mas faziam parte de mim. Virou uma espécie de orgão. Um orgão externo. Feito uma gônada. Feito um testículo.




Depois adentrei na fase-gel. Era um cabelo liso com muito gel, afinal até hoje não sei economizar nos produtos. Não que eu use gel hoje em dia. Há muito tempo não o uso mais. Eu abomino gel. Eu tenho pavor de gel. Pois foi com este que andei pelas ruas e salas de aula como se um cão tivesse lambido minha cabeça. Era um cabelo lambido. Um cabelo duro de tanto gel. E gel quando seca e você passa a mão no cabelo passa a ter aspecto de caspa. Gel de péssima qualidade claro, mas era o que eu tinha na época.


Além disso havia a má alimentação o que contribuia para a má qualidade do cabelo. Falta de zinco, talvez?? Aliás, aqui também é um post para salão de cabelereiros. Você sabia que grão de bico é um dos alimentos que mais contém zinco. E zinco é para quem quer deixar os fios de cabelo fortes. Sim, uma viadagem só...






As condições foram a melhorar. E surgiram os sprays. Mas com um detalhe. Um spray oleoso num cabelo muito oleoso. Imaginem a cena: cabelos lisos, bem cortados, mas com aspecto bem oleoso. Eu certamente não tinha um amigo nessa época para me dar um toque, não é??




E um dia um duende apareceu e me presenteou com um pote muito bonito: era um pomada. E pomada boa é pomada cara. E são muitas. Uma revolução cosmética. E pomadas para cabelo masculino. Como se cabelo masculino fosse de um jeito e feminino de outro. Ora, são cabelos. São pêlos. 

Um bom corte de cabelo, uma boa pomada. Comedimento para passar a talzinha no cabelo. E pronto. Tornei o quase impossível em possível.


E desde então não há mais cabelo oleoso, gel, cabelo lambido e bonés. 


E a pergunta que eu ouvi na conversa das duas amigas eu faço a mim mesmo. E a resposta eu prefiro dizer de uma maneira diferente. Assim como na música: Eu quero ser livre tanto quanto o meu cabelo, não importa o quanto esquisito eu possa ser...

E o melhor jeito é se auto-sarrear independente do cabelo que tiver. E assim, o sucesso está quase garantido. Quase...afinal, is just a hair.









quarta-feira, 22 de junho de 2011

1102 a 2011


Fui assistir ao novo filme do Woody Allen "Meia noite em Paris". Não é um filme habitual de Woody. Cheira o estranho. Diferente. Não chega a ser inovador. Mas mostra que Woody experimentou o "novo"para ele. Ao assistir um filme do diretor você já espera alguns cacoetes e, de repente, neste novo filme oops.... há algo estranho. Num primeiro momento fiquei incomodado, mas durante o filme entendi a proposta do diretor.  E sosseguei. E gostei. Entendi. Viajei. E fui embora. Nada de extraordinário, mas um filme que se destaca frente aos roteiros de "Pânico 4", "X men" e afins. E ainda de brinde há Paris. Mas há quem prefira Paris Hilton.


Há várias críticas embutidas no filme, por exemplo: "os jovens dessa geração são desinteressados e sem conteúdo"- disse o personagem.

Mas a linhagem do filme é a de que nós achamos que as gerações posteriores são mais interessantes, mais engajadas, mais cultas e mais...mais...mais... e a geração passada acha a sua geração passada mais interessante, mais engajada, mais culta e assim por diante. Um ciclo de pormenorização não analisada.




Não acho que a geração mais antiga tenha sido mais interessante que a atual.  É apenas diferente. Funcionava com os recursos que tinham. E ponto. Elis Regina também cantou:

Minha dor é perceber
Que apesar de termos
Feito tudo o que fizemos
Ainda somos os mesmos
E vivemos
Ainda somos os mesmos
E vivemos
Como os nossos pais


Mas ao ouvir a letra toda da música percebe-se uma ambiguidade:



Por isso cuidado meu bem
Há perigo na esquina
Eles venceram e o sinal
Está fechado prá nós
Que somos jovens...




Já disse que gosto muito de idosos?. São a minha mais nova forma de dose diária de alegria. São educados. São dóceis. São mais experientes. E são modernos. Conheci uma senhora de 57 anos com um piercing no lábio. Outra havia feito cirurgia bariátrica e apareceu com barriguinha de fora. Outra tinha gastrostomia e traqueostomia. Tem 83 anos. Elegante, simpática e muito viva, mesmo não conseguindo emitir um som qualquer. Não serei geriatra. Mas começo a ver a velhice de uma forma diferente. É inevitável. É necessário. Mas é ainda assustador.




Ser jovem num país de idosos, afinal a população está a envelhecer, não é? É sim...Mas hoje me sinto unitário, um tanto melancólico. Algo bem esporádico na minha rotina na verdade. Mas amanhã é outro dia e serei contemplado com novos sorrisos de idosos concisos e com as marcas no rosto que eu custo (por ora) a aceitar.

























domingo, 29 de maio de 2011

SÉTIMA TEMPORADA


Tirei o fim de semana, ou melhor, parte dele para fazer um "nada". O nada foi ir ao cinema assistir "Se beber não case, parte 2"; ver na tv um programa intitulado "Chegadas e Partidas"; rever uns episódios da quarta temporada de "Sex and the city" e assistir uns vídeos no youtube. Serão quatro clichês neste post.


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Sábado foi dia de ir ao cinema. Dia chuvoso e frio. A crítica já havia me avisado. Era um filme com piadas garantidas, porém escatológicas. Pensei eu: é um filme com quatro protagonistas masculinos, quatro meninões quarentões, ou seja, esperam-se piadas não higienizadas. E lá fui eu... O filme não é a segunda parte como se fosse uma sequencia. O filme é uma cópia do anterior. E é ruim. Ruim por não inovar. Poderia, mas optou pela fraqueza e pelo lucro garantido... Deveria ter assistido ao filme dirigido por Jodie Foster? Talvez, mas a imagem atual vinculada à Mel Gibson me desestimulou. Poderia ter inovado? Poderia, mas optei pela fraqueza do riso garantido.


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"Chegadas e Partidas" se passa no aeroporto de Guarulhos. É a espera da partida e da chegada de pessoas pelos seus familiares, amigos e/ou namorados. É a forma melhor demonstrada do que significa ser da raça humana. É como a espera do filho gerado por uma mãe na sala de parto. E por que é assim? Por que os sentimentos afloram à pele em pleno aeroporto ao redor de tantos desconhecidos? Claro que todo o cenário corrobora para ativar os sentimentos mais incompreensíveis. A espera longa, o ambiente arquitetônico de um aeroporto...e, claro que o sabor da espera e do sentimento embutido na chegada é diretamente proporcional ao medidor temporal. Quanto mais tempo ausente, mais adentramos ao fundo do poço sentimental. Entre chegadas ou partidas eu prefiro mesmo a chegada. Significa que o avião pousou. Significa "to be continued".

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Rever Sex and the city teve um intuito lógico: New York. Tão bem representada. E de brinde, claro, você ganha Sarah Jessica. Dizem que ela é exatamente na vida real o que foi Carrie, a personagem. 

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O quarto e último clichê foi ver no youtube a mais nova eleita poderosa do show business dizer aos prantos no backstage do Madison Square Garden, que se sente uma "looser", como nos velhos tempos do colegial. Bom, somente entende esse comentário àquele que não fez parte da turminha popular do colégio e era deixado de lado por aparentar ser "freak". Saber usufruir disso e se tornar alguém, independente da profissão que for, é merecedor de uma admiração sutil.


Enfim, se não beber não vá assistir "se beber não case". Se estiver à espera de alguém saiba que após o platô sentimental os relacionamentos voltam a sua normalidade, em que os conflitos fazem parte. Se estiver em New York, ofereço-me minha inveja. E sobre ser um looser? Sobre ser um looser eu posto:


"A realidade é dura, mas é ai que se cura. O fim da esperança para os que ainda a tinham. O fim da fantasia para os que já não a queriam. O outro é o outro. É o fim de um mundo. O susto. A dor. O salto: você é você. É o começo do mundo (Nelson Rufino).







sexta-feira, 27 de maio de 2011

Je suis L' art

I have to say: I refused to believe the sucessful is waiting for me. 


If you can stay the hit...go for it.


Plano traçado. 


Que venham as ruas e as avenidas,

Afinal o pneumotórax é para quem gosta de Tango,


Eu prefiro jazz...

sexta-feira, 20 de maio de 2011

QUAL O VALOR DE UM RIM?

Ontem eu conheci Francisco José, um pernambucano de 43 anos, com uma voz paciente e suave, típicos de nordestinos. Ele há 20 anos tem diabetes do tipo 1. Francisco já amputou um pé por conta da doença e já perdeu a visão. A única visão que ainda lhe resta é um certo embassamento.


Francisco agora não urina mais e tudo o que come ele vomita. A pele está ressecada e com um esfarelamento esbranquiçado sobre a pele.


Francisco evoluiu para Insuficiência Renal. Seus rins estão quase a parar de funcionar.


Ele agora terá que fazer diálise.


Os exames de sangue que avaliam a função renal foram pedidos e chegaram. Foi o momento em dizer o valor da creatinina , a qual quanto mais alta significa que os rins não estão filtrando bem o sangue.


Francisco é casado com uma pernambucana simples, tão doce quanto ele. Ela ainda mantém o mesmo olhar de uma criança. E o tempo todo incentiva o marido. Mas está muito preocupada. Sabe o que significa uma creatinina elevada.


Ei Francisco chegou o resultado dos exames, eu disse. A esposa ficou prontamente ao meu lado com um olhar trêmulo.


Quanto deu doutor?, perguntou a esposa.


Deu 12.


Ela começou a chorar. Os olhos de Francisco ficaram úmidos, como se os olhos quisessem filtrar todo aquele sangue.


Mas vai dar tudo certo né doutor?, perguntou a esposa.


E eu???


Eu to até agora mordendo os lábios para não chorar. Não por emoção, pois é óbvio que eu me emocionei, mas por vergonha.


Vergonha de ser tão mesquinho frente a pessoas tão humildes e com uma cruz tão imensa nas mãos.


Perdão Francisco. Você me ensinou muito ontem.

terça-feira, 26 de abril de 2011

EU NUNCA GUARDEI REBANHOS


Rebanhos me faz lembrar de carneirinhos em que algumas pessoas cantam numericamente toda vez que a insônia invade a mente. Confesso que já contei carneiros enquanto criança. Pelo sim ou pelo não, pode até funcionar. Mas cuidado, todo rebanho pode conter um cão caçador raivoso.





Mas eu nunca guardei rebanhos. Nunca fui de alimentar carneiros que já pularam a cerca. Aceito os percalços da vida e o pasto diferente em que cada carneirinho vai buscar para se alojar. 




Assim como Alberto Caeiro, eu tenho o costume de andar pelas calçadas, olhando para a direita e para a esquerda, e de vez em quando olhando para trás...E o que vejo a cada momento é aquilo que nunca antes eu tinha visto...(O Guardador de Rebanhos, Fernando Pessoa).

Creio no mundo como um caminho cruzado de vidas, de pessoas que envolve suas experiências umas às outras e independente da desconexão que for, alojam-se em lugares distintos. Hoje foi um dia de andar pela calçada e lembrar de uma mulher chamada Regina Maldonado. Vi um carneirinha com os mesmos traços e trejeitos de Regina. Às vezes é preciso ver para pensarmos. E fiquei com saudades.




No momento penso que o casamento do príncipe da Inglaterra e de Kate é uma nítida tentativa de contruir uma nova Diana, uma nova/idêntica carneirinha,  além do último grito de sufoco da Coroa Britânica para monetarizar sobre o casamento, além de ressuscitar o casamento como notícia por uma instituição há muito tempo falida e mal quista pelo seu povo e pelos demais. Feliz estão os paparazzi e a indústria de revistas de celebridades.


É uma febre a supervalorização de notícias sem fundamento: como a eliminação do Brasil na Copa ano passado. Meu Deus, é apenas um jogo de futebol, não é? Não é uma guerra mundial em que o Brasil foi derrotado e milhares perderam suas vidas. Tratamos a Lua como se fosse o Sol. A Luz da lua não sabe o que faz. E quem realmente está ao sol e fecha os olhos, começa a não saber o que é o sol.


Mas este post é sobre rebanhos. É sobre contar carneiros. De uma forma diferente, conto carneiros como se fossem pessoas. Conto Paula Cossi, pulando a cerca. E digo: humpf!!, que saudades. Conto Lú Bortoluzi, pulando a cerca, no bom sentido, com seus cabelos lisos sem um fio fora do lugar...rs....Conto Caru Fiorini, com sua alegria de toda hora. Conto Sandrinha de Franca, a sempre boa anfitriã. Hoje não as vejo. O que eu vejo do mundo? Sei lá o que eu vejo do mundo!!! Se eu adoecesse pensaria nisso. E hoje não estou doente.


Bendito seja eu por tudo quanto não vejo. Gozo tudo isso como quem sabe que há o sol.