quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

A MELHOR MANEIRA DE APRENDER É ADOECER


Já era 00h05 e devido ao trabalho no dia 31 dezembro, estava eu atrasado em direção a linda cobertura de um prédio de um amigo para presenciar os fogos de ano novo. Pelo sic e pelo viés assisti aos fogos na avenida da praia andando like Johnnie Walker, com um guarda chuva sobre minha cabeça. Algumas mensagens no celular: Aonde você está? ; Feliz ano novo na rua!! ; Ande logo!! ;  Você vai sair hoje? .


E a visão míope que eu tinha era de centenas de pessoas de branco, o que me remeteu a uma espécie diferente de máquina (de cópias) de Laranja Mecânica. Até que ponto nós , seres orgânicos, agimos mecanicamente?

Eu estava com uma camiseta em tom bege claro com o vocalista do T. rex (Marc Bolan) estampado na frente. Completamente off-white. Sim, branco para simbolizar a paz, eu sei. Mas, ás vezes, é preciso moer a mente para compreender o significado de paz. Ano novo é o clímax do refúgio da sanidade. Em que branco e paz se materializam numa roupa. É preciso adoecer para compreender. E, talvez, nunca compreendemos.


E eu chego ao edifício.  "Ufa", disse. A esperar para subir? NÃO..... os fogos já terminaram, todos já desciam do prédio pra pular  7 ondas e referenciar aos deuses. Exceto eu. Não alimento crendices. Mas não julgo quem as têm.

Eis que presenciei a cena que simboliza datas como Natal e Ano Novo. Um rapaz, veementemente bêbado, entra numa cabine de telefone público, disca e grita com a voz amolecida e melancólica: EU TE AMO MÃEEEEEEEE. Em seguida desliga, e sai pela avenida cambaleando. O cordão umbilical pode ser tenso, mas é eterno.


....fim da festa de ano novo...

Sábado e Domingo a trabalhar, a atender dezenas de pessoas a vomitar, diarreicas e cólica abdominal. Advinha o que meu corpo resolveu incubar em plena segunda feira de folga? : Sim, diarréia, cólica e vômitos. Foram dois dias de cama e muito mal estar. Mas isso pouco importa.


O que importa é que na ausência de familiares, os amigos se tornam uma família. E aqui meu agradecimento por escrito a Dra. Marianne e Renato, que vieram até casa, trouxeram medicação, ficaram horas me fazendo companhia (eu de cama, evidente) e me alimentaram. Obrigado pela companhia.


E para quem adoecer com os mesmos sintomas que eu, lembre-se: avaliação médica e muita hidratação. Uma velha dica e eficaz é o soro caseiro: um litro de água filtrada com duas colheres de sopa com açúcar e uma colher (de café) com sal. Muito repouso e as medicações prescritas, caso necessário. E para se alimentar: chá, banana, sopa com carne magra, bolacha água e sal. Evitar laticínios e derivados. Mas o  imprescindível é hidratar. E esperar. E esperar. E esperar. E a barriga dói. (Rs)

...


Minha busca pelo bronzeamento natural e comedido ainda é lenda. Chove muito no litoral. E muito e muito. Mas a cidade ainda está cheia de turistas e movimentada. Não na praia obviamente, mas nos shoppings, restaurantes, bares e padarias. Aliás, um nova padaria na rua Azevedo Sodré, a nova Requinte da Azevedo é a mais nova sensação do bairro (http://www.requintedaazevedo.com.br/). Confortável, clean, numa localização privilegiada e atendimento preciso feito direção de Sofia Copolla em Maria Antonieta. E a escada que dá acesso ao segundo andar é de dar inveja aos irmãos Campana.


...


Uma dica de livro para esses dias chuvosos: chama-se "Ó" de Nuno Ramos, além de escritor ele é artista plástico, e sua exposição na última Bienal causou um aforoço entre ambientalistas. A polêmica se deu em torno dos urubus, lembram-se? Nuno ganhou com este livro o prêmio Portugal Telecom de literatura de 2009. Literatura concisa, prática e para quem sentir falta de urubus, há galinhas no livro.



A mudar de assunto... Entro no site uol e me deparo com a imagem da família de Michael Jackson indo ao tribunal de Los Angeles para audiência preliminar do julgamento por homicídio contra o médico do cantor, Conrad Murray. Evidente que se o médico for culpado ele deve ser punido. Mas em relação ao cantor, tudo se cria como show bizz. Bastou ele falecer para ser sepultado as acusações de pedofilia e a vida pessoal tortuosa. Virou uma espécie de Deus. Padece o homem, fermenta-se o mito. Mas há muito gás vazando neste conto.


A meu ver, todos ligados a ele deveriam ir a julgamento. Durante anos, Michael Jackson foi impedido de viver sua sexualidade e esta sim foi sepultada enquanto o cantor era vivo, para que ele permacesse no foco apenas de sua carreira e muitos ganhassem dinheiro através de seu talento.  O capitalismo fonográfico transformou Michael num distinto cantor e compositor ao mesmo tempo que o adoeceu. Michael era sim pedófilo e com transtorno(S) de personalidade(S). Vivia num mundo paralelo, num mundo de Peter Pan. E enquanto bilionário, o pai dele que antes o agredia verbalmente e fisicamente, padeceu sob Pilates, e perdeu controle sobre o filho famoso.


Eis que Michael ganhou asas para poder voar com a Sininho. Vieram a transformação no rosto, a ecdise da pele e uma criança abandonada no corpo de um adulto. Era pedófilo, mas uma pedofilia ás avessas. O corpo cresceu, os músculos e esqueleto se desenvolveram, mas a mente era infantil. E esta evoluia retrogradamente. Quem também deveria ir ao julgamento preliminar deveriam ser os magos da indústria fonográfica e sua frágil e estranha família.  Precisamos parar de louvar aos mortos que enquanto vivos adoeceram pessoas.


O veredicto deste julgamento futuro muito me interessa. Socorrer uma pessoa enquanto viva. Por que a família não se empenhou nisso quando ainda ele era vivo? Somente agora, todos os familiares lutam para dar nome a um culpado. Somente agora, depois que o corpo (que já era um morto vivo) está a deteriorar. Estranho mundo de Jack.


...


Em tempo...a foto de Dani no dia 25 de dezembro, pós diversão na noite de Natal. É Dani, não é Suzuki, mas poderia ser. É bela tanto quanto.


Eis aqui também a foto postada no facebook de meu amigo quase psiquiatra Pedro e o que se segue embaixo da foto é: "Everybody wants to be found". Sim amigo Shiozawa, todos queremos apenas ser encontrados. E que o labirinto seja por demais tortuoso e nós torne melhores aprendizes. Eis a imagem abaixo.




Por fim...


Tenho ido, ás vezes, de ônibus para o trabalho. E a cada vez a ironia social se impõe como um martelo a tentar fincar um prego numa parede de palafita. Quanto mais detemos de informação mais nos distanciamos do significado altruísta. O mundo lá fora, companheiro, é injusto e desleal. E esse comentário é total clichê. Tenho visto aglomerações suburbanas insalúbres e hostis. Tenho visto crianças na lama. Homens com enxada no ombro indo ao trabalho. Tenho presenciado que num sábado à tarde a diversão de toda uma família é ligar o som alto em frente a minúscula residência e dançar e soltar pipa junto as crianças. Tenho tido ojeriza toda vez que passo em frente essa comunidade com meu aparelho de ipod e com meu celular com tela sensível ao toque. Tenho estado ferido com a realidade da saúde. E o que me desfarela é agora entender que o que importa Á ELES não são ÁQUELES que necessitam de assistência.


Hoje no ônibus, uma senhora simpaticíssima foi muito gentil em me informar em que ponto eu teria que descer pra chegar ao meu destino. Foi genuinamente educada. Ela deveria ter uns 47 anos, era loira, de cabelo preso e com centenas de fios brancos a tentar sobressair sobre os fios loiros. Vestia uma camiseta larga toda estampada em xadrez em que se predominava o vermelho. Usava um short jeans envelhecido e um chinelo comum. E ela gargalhava com a colega ao lado. Era um sorriso profusamente doce. Me pareceu ser tão feliz. Me pareceu ser tão comum. Me pareceu, intrinsicamente, entender o significado em PERTENCER àquele meio. Enquanto nós lutamos sem entender e covardemente no meio luxuoso em que vivemos. Nasce assim o meu raciocínio de que quanto mais nos informamos e deixamos a idade das trevas para adentrar no iluminismo da era 3D, menos seres humanos deixamos de ser. E nos tornamos mais susceptíveis as corrupções da ganância e do egoísmo. E uma vez iluminado, não há mais retorno.

Chega o meu ponto para eu descer do ônibus. Ela continua em sua jornada. Ela continua na sua simplicidade. Ela continua com sua ignorância. E eu prossigo a pé com um incômodo. Uma dor que eu identifico. Uma dor de inveja.

4 comentários:

  1. Meu amigo
    que texto bonito
    uma vírgula no cotidiano
    e
    "vapt".....
    repentinamente
    me sinto
    como vc pontuou:
    pertencendo
    a pessoas parecidas
    que olham de dentro e de fora
    e que podem sorrir
    por alegria
    ou por vergonha

    Sucesso pra vc!!!

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  2. Marianne Brunini Buonfiglio10 de janeiro de 2011 às 16:45

    Imagine, não há o que agradecer...somos amigos e colegas, esqueceu? Sempre que precisar, pode contar comigo!!! Super bjo, adoro seus textos...quero mais!!!!

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  3. Doctor Vinny.... o que é isso..... larga a medicina e vai ser jornalista amigooooo...... rsrsssss........vc está de parabéns viu.... tu és um sucesso total. Venha pra vargem dia 22 que vai ter churras no sitio da Lú, vc vai comigo.....bjus......... Paulinha Cossi

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  4. Vi só agora vi esse post...Não precisa agradecer não...afinal os amigos são para todas as horas! boas ou ruins! Sempre que precisar é só chamar ae! Abração!

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