segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

O VIGOROSO BIGODE

"Enquanto acreditamos na moral, condenamos a existência", eis a frase de Nietzsche sobre niilismo do livro "A vontade de poder".


Semanas atrás "troquei" um email com Contardo Calligaris sobre "coerência é um valor moral?". Nele discutiamos sobre Marenilde Brito Affonso, mãe de Eduardo Affonso Júnior, a qual rompeu o lacre de um lote de provas do Enem para deficientes visuais e teve acesso ao título de um texto motivador da redação, duas horas antes do permitido. O filho almejava uma vaga em medicina. Com ajuda do marido, contactaram o filho e pimba, Eduardo tinha o tema da redação "Trabalho e Escravidão" e substratos para transcorrer sobre o tema da prova do Enem.


Teria sido a mãe incoerente com a moral? Ou será que ela foi coerente, no sentido maternal, para ajudar o filho ter uma boa nota na redação e conseguir ajuda na vaga difícil e concorrida para medicina? Teria a mãe tido um dilema e foi corajosa ao noticiar o filho, mesmo sabendo que sua conduta era errada? A concessão feita ao filho foi um gesto aético, criminoso? Ela deve ser condenada por isso? Ou o Ministério da Educação (e as dificuldades em ingressar nos cursos de faculdade, como o de medicina) deve ser responsabilizado e é nele que mora a incoerência?



Dizer que a ação da mãe foi algo errado, feio, irresponsável seria o mais viável, o mais coerente, o mais aceito?. Incriminá-la seria o mais fidedigno, o mais fundamentado nas morais éticas, não seria? Ou a coragem dela, devido ao dilema criado, que somente as razões impalpáveis das mães conhecem, deveria ser levado em conta e, portanto, ela deveria ser absolvida?

Quando é que o dilema vence a barreira da covardia e passa a ser mais valorizado (mais coerente, talvez) do que ter e seguir aos próprios princípios sociais decadentes? Afinal, quem rege a moral?

Afinal, QUEM REGE A MORAL???


Sobre o assunto, Contardo diz que colocar DILEMAS é a ÚNICA forma de pensar moralmente.


Já Nietzsche diz que a moral foi o grande antídoto contra o niilismo (a crença na ausência do valor, do pensar) prático e teorético. E diz mais, pensa que a hipótese moral cristã emprestou ao homem um valor absoluto, devido sua pequenez. O niilismo, ou seja a ausência, segundo ele, seria um estado intermediário patológico de não haver mais nenhum sentido absolutamente, seja pelo fato de que as formas produtivas ainda não estejam fortes o bastante, seja porque a decadência ainda vacila e ainda não inventou os seus remédios. MAS Nietzche entra em contraponto ao falar sobre o niilismo ativo (como sinal de poder) e niilismo como estado normal, como sinal de fortaleza. Mas mescla tudo isso ao sabor teológico cristão e budista, em que neste moraria o niilismo passivo, como exemplo.


Certo é que a moral é pautada sobre dilemas. E ao pensar criamos nossa própria moral. Não pensar seria o niilismo. Por exemplo, como a ioga. Seria uma ausência passiva. Jogo de xadrez seria uma espécie de niilismo ativo. Não aceitar imposições, por exemplo, de dogmas religiosos seria o primeiro passo para se criar dilemas. Martinho Lutero fez isso. E fomentou sua Reforma Protestante.


Digo tudo isso para simplesmente querer afirmar que NÃO devemos aceitar as laranjas mecânicas dos outros. Não devemos deglutir o niilismo passivo da sociedade. NADA é absoluto. Devemos criar dilemas o tempo todo, questionar. Colar nossas regras no tabuleiro de xadrez.


Uma pessoa muito querida me enviou uma mensagem a dizer que está a questionar algumas condutas de amizades antigas. Querida amiga, não conversamos ainda. No entanto, posso lhe dizer a mesma frase do início dessa postagem. "Quando acreditamos na moral, condenamos a existência". A moral, no seu caso, seria tentar sempre encontrar uma maneira para não ferir o outro. Popularmente, "colocar panos frios" sobre algo bem quente, ou seja, sobre um dilema criado. Mas posso lhe garantir, que ao fazer isso você nega sua existência. Você nega sua moral. Você se anula. E quem sai niilista desta situação é o seu ego. A toda hora nós estamos em alteração. Física, espiritual e inclusive, moral. Amizades uma vez cá, uma vez lá. Encontros e desencontros. Se aceitamos guela abaixo as morais dos outros, desfarelamos nosso existir. 


E aquilo que pouca gente faz, ainda mais num país como o nosso, em que tudo se dá um jeitinho É: tenta-se agradar a todos. Tenta-se não dizer NÃO. Não se emite opinião por medo. Medo da rejeição. Medo do comprometimento. Medo de perder. Mas perde o que? Perder pessoas que querem nos dominar? Nos diminuir? Perder o que já se desgastou? MAS quem escolhe em não finalizar os seus dilemas, se torna refém de si mesmo. És o responsável pela tua desgraça.


Quando pregamos nossa moral a nós mesmos, chegamos na ética. Para isso precisamos criar dilemas. Parabéns minha amiga por isso. Um dilema foi instaurado. Resta saber o que fazer com ele. E cuidado para não tornar sua vida um motorama. Ou seja, retornar sempre a linha de partida.

Sem mais, sinta-se uma fortaleza.


Em tempo: Fui ver "O turista" com Angelina Jolie. O filme foi rodado em Veneza e Paris. Como pode uma cidade se tornar menos atraente quando Angelina se faz presente?

A única boa frase do péssimo roteiro do filme é: "Você irá sentir que a vida não é tão boa para mulheres feias"...Na cena, uma faca afiadíssima estava voltada em direção ao rosto da atriz. 

O filme é ruim. Vale o ingresso pela beleza (paris)tética da atriz. Se você for invejosa, NÃO VÁ.

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